Episódio 4


410 d.C | 711 d.C

Tardo-Romano e Bárbaro


Episódio 4

- Baixo-Imperial e pré-bárbaro do século III até ao IV d.C.
- Os reinos Bárbaros do século V d.C.

- (#)-(Império Bizantino até ao século VII d.C.)



Baixo-Imperial

O termo de crise do século III, o império a que se dá o nome de baixo-Imperial, a conversão progressiva do núcleo familiar forma focos páleo-cristãos em numerosas "Villae-rusticas" a extinção das linhagens e a formação de verdadeiras aldeias dependentes com os seus cultos locais e disciplinas eremíticas e os santuários religiosos. A aristocracia latina fundiária associada ao "Magnus Maximus" em 383-388 d.C. é criado o domínio episcopal em sítios de povoamentos rurais como o caso da *"Iglesiae" de S. Romão que servirá de assento e batizo do santo visigótico de "Sanctu Romanu" e não sendo excepção a primitiva "Portellu" ou Portela já como um núcleo importante, constituído seguramente aí também uma futura **"ecclaesiae".

A qualidade de redes viárias, o troço da calçadinha pela necessidade do transporte dos metais do sentido de Ossónoba ou Balsa ou mesmo pax-Julia, o sistema urbanístico e comercial entram em colapso, pelos seguintes fatores: Invasões, catástrofes naturais como o sismo de 413 d.C, tudo isso vai contribuir para acelerar a crise e a degradação e o empobrecimento das "Civitates". Nesse período segue-se o abandono das "Villae" onde ainda predominavam algumas zonas irrigáveis pelo barrocal, as informações recentes do não desaparecimento definitivo desses povoamentos deve-se a fontes greco-latinas e à história territorial seguinte relacionada com o cristianismo primitivo e a sobrevivência dos costumes populares após fundação de Constantinopla intitulada de (Nova Roma) que a política do seu Imperador "Constantinus" e do grande (Império Bizantino) não aboliu nem fez desaparecer os antigos cultos do século VI como está explicito e escrito nas lajes das sepulturas de legionários.

Na tentativa de defesa à dominação bizantina e visigótica, levou os Romanos à construção de pequenas fortificações de proteção militar como a que ficaria localizada na atual pousada, principal itinerário de coleta fiscal e logística militar de Ossónoba-pax-Julia do século II ao IV d.C, (factor importante à origem de Portela), mas mesmo assim acompanha-se o declínio geral da península, resultante do desmembramento do grande império, da terra e do mar e é nessa posição que vem a encontra-se brevemente com a invasão de 711 d.C.

Inicia-se a sua decadência com o aparecimento de grandes "Villae" tardias de tipo palatino e que irão ser utilizadas na época que se estende do século IV ao VIII d.C, a partir do período baixo-Imperial haverá então o seu reaproveitamento e reconstrução sucessivas pelos factores naturais das instabilidades sísmicas da época e mudança sistemática de poderes dos povos que ainda estarão para chegar. O que é certo é que algumas destas futuras vilas manterão os seus alicerces e permaner-se-ão erguidas até chegar a Monarquia portuguesa.

Esta zona sempre esteve fora de um limite sub-urbano de Ossónoba e assim continuará mesmo ao formar-se o seu núcleo habitacional, a organização deste território pode ter começado por ser idêntico ao utilizado nas grandes "Civitas" ou "Villae" mais desenvolvidas (mas em miniatura), ou seja sempre como reserva fundiária para colonizações posteriores de ager urbano o mesmo será para os Visigodos ou mesmo para os Bizantinos, realçando a sua administração territorial(***distinções da origem romana-latina), que assim irá permanecer como povoado meramente rural, até há pouco tempo (só há um século atrás).

*Iglesiae, igrejas

**Ecclaesiae, comunidade, uma rede de povoamentos rurais

(***distinção importante (69 – 79 d.C) passagem das antigas Civitas à categoria de munícipios de direito latino)


BIBLIOGRAFIA
Abel Viana (Ossónoba) 1952
Pequena contribuição para a história de Ossónoba in Portucale vol. IV Dr.J.J.Rodrigues



Período tardo-Romano

Os romanos vão deixar-nos de herança, as cidades, estradas algumas adaptada depois à vida contemporânea, percursos que serão descobertos séculos mais tarde, necrópoles, casais agrícolas e Vilas, armazenamento em ânforas, mascarão de asa de sítula (pega da panela). A república Ossonobense, no início da dominação da cavalaria gótica dos Visigodos acompanha o declínio geral da Península Ibérica, resultante do desmembramento do grande império. Cessa a exportação dos produtos da terra seguindo mais catastroficamente o do mar, elementos fundamentais da indústria e comércio da metrópole, seguindo-se todas as outras cidades de toda a costa Hispânica, após a queda do Império Romano os Reinos Bárbaros iniciam as suas vagas com primeiras tentativas entre 451-476 d.C.

O período que separa a História da antiguidade da Idade Média a partir do século V, é muito conturbado por uma sequência de Invasões Germânicas (ou dos Bárbaros, no sentido romano de - estrangeiros) e que marca a dissolução da relativa unidade romana e latina em antigas regiões históricas ou étnicas. Era paleo-cristã e a idade Visigótica na península Ibérica, época em que começam as primeiras perturbações, juntamente com guerras civis e levantamentos populares, fomes e epidemias viriam a marcar os séculos seguintes que conduziram à queda do império. Existia uma grande insegurança das "Villae" principalmente no meio rural onde estava concentrado a elevada riqueza, no entanto e talvez felizmente por aqui neste novos povoamentos alguns já (Cristianizados) os recursos produtivos, habitacionais, religiosos aqui eram bem mais modestos por essa altura, no Vale de Mealhas o exército Romano é derrotado pelos Visigodos, sendo este o último Imperador "Rômulo Augusto" estamos no ano 476 d.C.

Pagus estuarino

A ribeira que nasce na zona de São Brás de Alportel, desce serra abaixo, passando por Milreu (Estoi) , Conceição de Faro, indo desaguar na Ria Formosa a Este de Faro, dá o nome a um sítio do sul, foi um antigo rio marginado a Oeste pela via romana, com a curiosidade de ter desviado a sua rota, criando uma bifurcação para aquilo a que o povo chama de Ribeira velha (o velho leito) e Ribeira Nova (sobre um troço da antiga via construída durante a ocupação romana).

Este poderá ter como origem o próprio fornecimento de água potável a Ossónoba através de um ramal antigo de aqueduto aqui do território, com inicio ao desenvolvimento de "Hortas e Moinhos", utilização de moinhos hidráulicos que acompanhavam o vale da ribeira e continuará a ser utilizado e aperfeiçoado depois pela comunidade árabe. Existiria estruturas relacionadas com a "Pars rústica" (alojamento de servos), "Domus" (residências senhoriais) com as termas (balneários) como o caso de "Milreu", várias hospedarias (Estalagens) povoados estes importantes onde as estruturas de apoio aos viajantes tendem a concentrar-se e a oferecer uma maior diversidade de serviços ao longo da ribeira do (Rio Seco).

Com o passar do tempo os páleo-estuários do território da Lusitânia desaparecem, correspondem às maiores concentrações de povoamentos designado Pagi-estuarinos que são assentamentos rurais, dispostos na antiga margem de estuários de rios e ribeiras e estabelecimentos industriais extrativos, oleiros e agro-marítimos com exceção do Ludo da atual ria formosa todos os outros estuários navegáveis terão desaparecido, onde se inclui também um braço outrora navegável próximo de Moncarapacho.

Já aqui mais a Norte no sopé da serra, lugares centrais de aproveitamento da abundância de nascentes nas orlas do maciço calcário, no vale tectónico, boa qualidade dos solos para o aproveitamento da olaria ao longo do leito da antiga ribeira que vinha da Portela. A nascente serpenteia em todo o seu percurso até ao litoral, já o consumo elevado de madeira para o aquecimento dos banhos dos grandes centros urbanos e para a construção naval, trouxe consequências graves na região em termos ambientais, a exploração mineira a erosão dos solos durante todos próximos séculos a partir do século VII d.C será desastrosa, levando ao desaparecimento dos antigos estuários naturais navegáveis.

Em Ossónoba começa a adaptar-se templos pagãos a templos cristãos, iniciando-se um processo de cristianização, que culminará logo com a sua conquista pelos Visigodos. Prestes a desaparecer a cidade, a ocupação visigoda não vem introduzir alterações de fundo na estrutura da velha cidade, já que se trata de um povo cristianizado mas aí figurará a Sede de Bispado já a partir do século V d.C. e durante todo o período ****"Godo". Como índole também mantém as áreas rurais, o que permitiu a continuação da maior parte dos povoamentos urbanos, estruturados pelos Romanos, que culminará com a presença também dos Bizantinos, as obras mais sofisticadas entram em colapso por falta de manutenção.

****Godos, ou Visigodos significa, Os Godos do Ocidente, povo germânico saído da Escandinávia no século I (Westgoten, alemão).

Invasões Bárbaras

Nos finais do século V d.C, entram na Península Ibérica um conglomerado de vários povos Bárbaros: Estes repartem as regiões quase como por sorteio, cabendo o Norte a "Aquitânia" aos Francos, assim como uma parte do território da "Lusitânia" e da "Gallaecia" aos Suevos, aos Godos (Visigodos) cabe o Sul da "Lusitânia" e "Hispânia", já partindo para o norte de África tem os Vândalos. Os Visigodos depois da fracassada tentativa para se instalar em África, como aliados da "Nova Roma", combatem com grande êxito os Vândalos e os Suevos, os outros restantes pequenos povos Bárbaros derrotados iram desaparecer como povo.

Enquanto os Francos conquistam a "Aquitânia-Romana" também chamada de Gália, que ainda mantinha a influência germânica, Teodorico, o Ostrogodo, retoma a Itália e rodeia-se de senadores romanos no intuito de tornar Toledo a capital de todo o reino Visigodo. Os Bizantinos aproveitam e instalam-se a Ocidente, recuperam Cártago e os seus representantes saltam de África para o sul de Hispânia e Lusitânia.

Herança Bizantina – (1.ª PARTE)

(#) Nos chamados reinos bárbaros mediterrânicos, mantêm-se as influências romanizadas, o Império dos Bizantinos, decidem reconquistar os Reinos do Ocidente recomeçando pelo norte de África ao derrotar os Vândalos de 527 – 565 d.C.
Um grande Império do Oriente parte de Constantinopla para socorrer os católicos perseguidos, no reinado do Imperador Justiniano I, neste mesmo período em que derrotavam os Vândalos logo entram pelo sul da península Ibérica de 554-630 d.C e estabelecem-se em "ecclaesiae" neste extremo sul do Algarve litoral e Barrocal.


Também chamados de Império Romano do Oriente, os Bizantinos vêm com a designação de carácter militar mas sobretudo o apoio a uma estrutura eclesiástica local, onde os locais de culto usados pela população podem ser mantidos. Este ponto é um factor predominante na história de São Brás de Alportel, (iremos voltar a falar deste momento de espaço temporal) para nos regularmos na sua (Origem). Bizâncio tira partido dos seus stocks de ouro e de intermediário no comércio entre o Oriente e o Ocidente onde impõe desde o reinado de "Constantinus" uma moeda de ouro.


Proclamam a sua cultura e administração social, passa a ser uma referência do comércio mediterrânico pondo fim ao antigo Império Romano ao ter como herança a cultura helénica que faz um todo da unidade de Bizâncio, utilizando a língua da cultura para elites o (Grego). Mas foi provisório!... O reino Visigodo não havia recuado e não tinha desistido, voltariam a chegar incursões desde 575 d.C, que conquistam novamente para seu reino, o que obrigou os Bizantinos a retirarem-se e a abandonar o território em 629 d.C, as preocupações do "Povo de Bizâncio" estavam focadas a Oriente e são expulsos de vez da Hispânia e do sul da Lusitânia.

(#) Nota: muito pouco de conhece no nosso território deste curto período Bizantino, existe a descoberta de um "Aureus" (moedas de ouro de Justiniano I) encontradas em Alcaria Alta não longe de São Brás na "via Vacinalis", o que é certo é que os bispos de Ossónoba estiveram ausentes entre 590 e 652 d.C .( IMPORTANTE na ORIGEM DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL).



Dominação Visigótica

A unidade do reino ficou comprometida pela questão religiosa: os Visigodos professavam o Arianismo e os Hispano-Romanos eram Católicos. Mas a fusão com os Hispano-Romanos resolveu-se em 589 d.C, ano em que o rei Recaredo I proclamou o Cristianismo religião oficial da Hispânia visigótica aos seus príncipes bárbaros, que progridem para Oeste em vagas sucessivas.


O ariano Leovigildo (rei dos Visigodos) sonha em instaurar a unidade política e religiosa da península Ibérica e finalmente consegue, o povo dos Visigodos instala-se, depois de ter concluído o célebre tratado ou "foedus" com o Império, na Aquitânia, base do futuro Reino de Tolosa, fazem de Toledo sua capital Visigótica e logo de seguida manter-se-ão senhores de todo este território.


Um sacerdote pagão de Ossónoba relata na escrita grega a reconstrução de uma nova povoação: (inicia-se o erguer de uma pequena povoação que até então servia de porto à antiga Civita). Já com as estruturas danificadas "Sancta Maryia" era então simplesmente um porto de mar abraçado pela água, o grande cataclismo sísmico de 413 d.C, na promoção de Ossónoba a munícipio peninsular, na tentativa de a erguer no principado de Júlio-Cláudio.


Já após o fecho de uma certa extensão sul do rio seco, os Visigodos exprimem:

"Os indígenas locais conhecedores da natureza da região, ficaram sabendo que os esteiros podem ter a mesma serventia que os rios, nós os Godos não conseguimos prenunciar o seu nome, então chamamos-lhe de "Ekxunaba", perto existem os palácios e os banhos em "Milreu" que nós tentamos ampliar, sabemos que outros povos a quiseram fazer rainha, aqui na Lusitânia abraços com Bética os Celtas, Túrdulus e Lusitanos quiseram-na aprisionar mas pelo seguimento do Sacrum Promunturium os "Oppida" de Ossónoba, Balsa e Myrtilis, quanto aos anteriores "Cartagieneses" ainda são falados no Oeste litoral em Portus Hannibalis ou Lacobriga."


Os Visigodos ocuparem a maior da Península, apesar de curto e tardio de 630-711 d.C tendo o seu domínio perdurado até à invasão do Islão, foi importante para a evolução deste povoamento, devido ao inicio da construção das primeiras e primitivas paróquias já cristianizadas algumas das quais mantiveram-se até hoje e são o alicerce nestes locais onde a toponímia pré-islâmica se vai manter.


Pequenos e antigo templos privados das Villae serão transformados em ermidas páleo-cristãs, é nesta fase do século V ao VIII que surgem os primeiros topónimos de (São Brás), na transição Visigodo para o Árabe. Pouco se sabe no que respeita este pequeno povoamento no planalto de São Brás, que aqui inicia a sua formação, mas quanto aos muçulmanos e após a conquista do Algarve o espaço ocupado pelo povoado já havia sido batizado. Aliás para além da origem do nome, no entanto, é indiscutível a antiguidade da primitiva aldeia, cujas origens estão intimamente ligadas à passagem da tal (Porta da Serra)Portela do latim "Portellu" e as águas por aqui circundantes.


Cultura Visigótica

As lutas internas levaram a que o último rei Visigodo Rodrigo fosse derrotado pelos Muçulmanos na batalha de Guadalete em 711 d.C, sendo a monarquia visigoda destruída pela invasão muçulmana procedente do Norte de África, que substituiria o Reino Godo pelo de "Al-Andaluz". Apesar dos reinos dos Visigodos caracterizaram-se pela imensa influência que receberam da cultura e da mentalidade política Romana, criaram formas artísticas originais, como o (arco de ferradura) e a (planta cruciforme das igrejas) e realizaram um importante trabalho de compilação cultural e jurídica. A arte visigótica que chegou aos nossos dias é constituída principalmente por arquitectura, escultura subjacente à arquitectura (frisos, capitéis e ourivesaria). Figuras ou obras jurídicas como o Código de Eurico, a "Lex romana visigothorum" e o "Liber judiciorum", código visigótico que forneceu as bases da estrutura jurídica medieval na atual Península Ibérica, expressam o desenvolvimento cultural que o reino visigodo alcançou – como o equivalente Ocidental do "Corpus Iuris Civilis" de Justiniano I.
A (Aquitânia da Gália) a (Hispânia dividida em Gallaecia, Terraconense e Bética) e a Lusitânia, foi para as castas deSuevos e Visigodos também a última pátria, considerados Bárbaros só para alguns, acabaram por se confundir com a população indígena.

WEBGRAFIA:
Referências: Ruiz García, Elisa

Catálogo de la sección de códices de la Real Academia de la Historia. Madrid: Real Academia de la Historia, 1997



Texto adaptado e publicado por mediaKRIATIVE






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  • "Villae" Romana

    Fornos Romanos

    Sepulturas de Legionários século V d.C


    "Oppidum" convertido a "Vici"

    Mascarão de asa de sítula
    (pega da panela)

    Ânforas

    Moeda Romana


    Aqueduto de águas








    Nas invasões bárbaras nos
    finais do século V d.C
    Os Visigodos tomam a Lusitânia

    Império Bizantino de 554 a 630 d.C
    NOTA: Siga no Próximo Episódio


    Reis e Príncipes Visigodos
    Convertidos ao Cristianismo



    (Norte) - Moeda SUEVOS
    (Sul) - Moeda VISIGODOS



    O Maciço Calcário do Barrocal
    Principal origem, da extração da pedra
    de cantaria que constituiu
    o ornamento das paróquias

    Arte Visigótica
    (frisos, capitéis e ourivesaria)
    Século VII e VIII